terça-feira, 20 de novembro de 2012

Reino, leigos e negros

Esta semana é marcada por comemorações muito significativas para todos nós. Dentro do calendário litúrgico, iremos celebrar a festa de Cristo Rei, coroamento de toda a nossa caminhada anual na fé, encerramento do Ano Litúrgico. É a celebração da vitória final de Jesus Cristo sobre o pecado e a morte, garantia de nossa vitória.
Com a festa de Cristo Rei, a Igreja nos convida a celebrar também o “Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas”. E por que nesse dia? Porque o sonho de Jesus Cristo é ver o seu Reino se concretizar, e a grande força nessa construção vem do apostolado leigo.
Jesus ocupou grande parte da sua vida e pregação explicando o que é o Reino e nos convocando para trabalhar na sua construção. Revelou-nos que sonha com um mundo marcado pela justiça e pela fraternidade, deixando claro que isso depende de todos nós cristãos. Ele é um Rei que veio para servir e convida seus seguidores a estar sempre a serviço da vida e do bem.
Nossa realidade, porém, está muito distante do sonho de Jesus. Inquieta-nos, por exemplo, a violência, a desigualdade, a corrupção, a injustiça. Preocupa-nos a situação das famílias esfaceladas ou em crise, das crianças desassistidas ou abandonadas, da juventude desorientada, dos desempregados etc. Aí está o vasto campo de trabalho dos fiéis leigos. Trabalho imenso, poucos operários.
Mas é preciso “botar a mão na massa” para construir “novos tempos”, numa sociedade fraterna. Diante da realidade que temos, diz o Doc. 71 da CNBB, “não basta protestar ou lamentar, mas é preciso redobrar, com lucidez e perseverança, o empenho na construção de uma sociedade justa e solidária” (n. 152).
Porém, o princípio de todo trabalho, nunca será demais repetir, depende da nossa conversão. Primeiramente para entender que a Igreja não é feita de padres e bispos, mas de todos os batizados e batizadas. É fundamental que valorizemos sempre mais o protagonismo dos leigos, atores e agentes da evangelização. Temos ainda uma concepção muito clericalista da Igreja, inclusive por parte dos leigos. Certamente os formamos assim. Mas é urgente mudar.
O papel de fermento, que Jesus delega aos leigos, não pode ser ignorado. É atuando nos grupos, pastorais, comissões, associações, comitês, conselhos, na política, que podemos fermentar e transformar.
E uma das realidades que exigem mudança é a do povo negro. Neste dia 20, celebramos o “Dia Nacional de Conscientização do povo Negro”. A desigualdade social, que já é grande, aparece com maior intensidade entre a população branca e negra. A renda média, a escolaridade, a situação de miséria, a realidade carcerária e da justiça, a presença entre os que detêm o poder, tudo isso revela a face ainda racista e discriminadora da nossa sociedade. Na linguagem e na prática, negamos a igualdade de direitos e oportunidades. Até mesmo na Igreja, onde há poucos negros na hierarquia e, para muitos, a alma é branca e o pecado é negro, precisamos urgentemente de uma conversão radical. Só assim estaremos aptos para ser membros e construtores do Reino.

Padre: José Antônio de Oliveira

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