sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A voz que vai; a Palavra que permanece


“João era a voz, mas o Senhor, no princípio era a Palavra (cf. Jo 1,1). João era a voz passageira, Cristo, a Palavra eterna desde o princípio.
Suprimida a palavra, o que se torna a voz? Esvaziada de sentido, é apenas um ruído. A voz sem palavras ressoa ao ouvido, mas não alimenta o coração.
Entretanto, mesmo que se trate de alimentar nossos corações, vejamos a ordem das coisas. Se penso no que vou dizer, a palavra já está em meu coração. Se quero, porém, falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu. Procurando então como fazer chegar a ti e penetrar em teu coração o que já está no meu, recorro à voz e por ela falo contigo. O som da voz te faz entender a palavra, e quando te fez entendê-la, esse som desaparece, mas a palavra que ele te transmitiu permanece em teu coração, sem haver deixado o meu. (…)
Justamente porque é difícil não confundir a voz com a palavra, julgaram que João era o Cristo. Confundiram a voz com a palavra. Mas a voz reconheceu o que era para não prejudicar a palavra. “Eu não sou o Cristo (cf. Jo 1,20), disse João, nem Elias, nem o Profeta. Perguntaram-lhe então: Quem és tu? Eu sou, responde ele, a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” (Jo 1,19.23). Esta reflexão, tão poética e profunda, é de Santo Agostinho.
Ela nos ajuda a entender a importância da voz que comunica e da Palavra que transforma. A voz é necessária; a Palavra é fundamental.
O grito forte deste tempo do Advento e Natal é o apelo à conversão. Aí está o caminho para o encontro com Jesus, com a Vida.
E como ‘aplainar’ o caminho do Senhor, como pregam Isaías (40,3-5), Baruc (5,7) e João Batista (Lc 3,4-6)? É preciso, dizem, aterrar os vales, rebaixar as montanhas, endireitar as estradas cheias de curvas, nivelar os caminhos.
Entendemos que é preciso um grande esforço para rebaixar as montanhas do orgulho, da vaidade, da prepotência, da arrogância, da presunção, da soberba, do egoísmo, da ambição desmedida, do consumismo; tirar o que está sobrando, o que é demais. Por outro lado, é preciso preencher os vazios da nossa omissão, do descaso, da indiferença, da frieza, do comodismo, da preguiça. Evitar as curvas e desvios que nos afastam da meta, que nos tiram do foco, que nos levam a virar as costas ao bem, à justiça, ao amor; que retardam ou impedem o nosso caminhar. Evitar os atalhos enganosos do mais fácil e menos comprometedor, daquilo que prejudica a sintonia com o Projeto de Jesus. Isaías nos convida a “alisar as asperezas”. Às vezes somos um tanto ásperos com os outros; arranhamos ou machucamos quem se aproxima de nós. O tempo do Natal nos convida à mansidão, à compreensão, à paciência, ao perdão. Saber acolher, dialogar, conviver no respeito.
Para que a Palavra penetre em nosso coração, em nossa vida e nos transforme, é preciso estar atentos à voz que clama: preparem os caminhos…
Pe. José Antônio de Oliveira

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