quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Andou fazendo o bem…


Algumas frases da bíblia mexem mais com a gente. E uma que sempre me toca é a de Pedro, nos Atos dos Apóstolos, quando fala sobre o batismo de Jesus: “Ele andou por toda a parte, fazendo o bem” (At 10,38). Pra mim, isso resume a vida de Jesus. E deve ser o resumo da nossa vida. Há coisa melhor que fazer o bem? Como é bom sentir que a gente fez bem a alguém! E como machuca saber que, mesmo involuntariamente, a gente fez mal a uma pessoa!…
O texto acima faz parte da liturgia da Palavra na festa do Batismo de Jesus, que marca o enceramento do ciclo do Natal e o começo do Tempo Comum. A celebração traz mensagens muito bonitas e muito ricas. Vale a pena registrar alguns pensamentos e refletir.
Jesus foi batizado, ungido pelo Espírito e saiu fazendo o bem e curando. O primeiro passo foi mergulhar nas águas do Jordão. Ele quis se lavar. Não tinha nada que o sujasse, mas quis mostrar a importância do gesto. Estamos ainda bem no início do ano. Pra começar bem, uma atitude importante é dar uma lavada em tanta coisa que está fazendo mal. Ao longo do ano a gente acaba acumulando a poeira de muitos sentimentos nocivos, relações infelizes, atitudes impensadas, pendências mal resolvidas… Vale a pena dar um banho em tudo isso e substituir por um perfume suave que nos deixe melhores e faça bem a quem convive com a gente.
O Evangelho diz que, enquanto Jesus era batizado, ouviu-se a voz do Pai que dizia: “Tu és meu filho amado. Em ti me comprazo” (Lc 3,. Podemos dizer que Jesus é um filho que dá prazer ao Pai. Nós também somos filhos e filhas que Deus ama com todo carinho. Vale a pena levar uma vida que também dê alegria ao Pai.
Isaías (42,1-7) lembra algumas atitudes do Filho que dão prazer ao Pai. Uma delas é não “levantar a voz”. Quem tem argumentos não precisa gritar. Além disso, ele “não quebra a cana rachada e nem apaga o pavio que ainda fumega”. É importante descobrir o que há de bom, incentivar, encorajar, animar, comunicar esperança, ser otimista… Valorizar o que se tem, cuidar do que está fraquejando, dar alento, confortar. A imagem do profeta é muito bonita. Se há uma pequena luz, um pouco de esperança, dentro de nós ou no outro, é preciso aproveitar e reavivar a chama.
Ele não vai sossegar enquanto não vir a justiça acontecer (v. 4). Temos muito a aprender com esse servo de Javé. Vencer o comodismo, a indiferença, o derrotismo, o medo. Buscar a justiça sempre e com coragem. Não se cansar. Não desistir. Enquanto cristãos e cristãs, somos convidados a ter “os mesmos sentimentos de Jesus Cristo” (Fl 2,5). Tudo o que fazemos deve ter um pouco de nós e um pouco de Cristo. Paulo Apóstolo, certamente inspirado pela parábola da videira e dos ramos (Jo 15), diz que, pelo batismo, somos “enxertados em Cristo” (cf Rm 11,16ss). Quando um broto é enxertado no tronco de outra planta, passa a receber a seiva daquela raiz, daquele tronco. Seus frutos são uma mistura do que ele é com aquilo que a outra planta é. Se recebemos o batismo, nossas atitudes, nossas palavras, nossos gestos devem ser ‘cristianizados’. Devem revelar o jeito de Jesus.
Pedro, no texto dos Atos, diz que Jesus saiu também curando os que estavam dominados pelo mal. A tentação faz parte da nossa vida. O mal está sempre nos rodeando. E, de alguma forma, está dentro de todos nós. Todos carregamos em nós anjos e demônios. Mas a expressão de Pedro é clara. O ruim é quando somos ‘dominados’ pelo mal. Quando o demônio fala mais alto. Quando nossas atitudes revelam mais o lado do mal. Aí, precisamos mesmo de cura. Primeiro nos curar, para que o Espírito bom domine em nós, aponte a direção e mova nossas atitudes. Depois, fazer algo por aqueles onde o mal ainda domina. Ou onde a dor é grande e a cruz pesa. Todos podemos curar corações feridos. Um gesto de atenção e de carinho, uma oração, um sorriso, um abraço, uma palavra amiga, uma mensagem… Algo que possa dizer: eu estou aqui e me importo com você.
Viver o batismo é isto: lavar-se do que faz mal, perfumar-se com o bem (o óleo do Crisma é perfumado), enxertar-se no tronco da Vida, produzir bons frutos, comprometer-se com a justiça, sair por aí fazendo o bem…
Padre José Antônio de Oliveira

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