quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sua Humildade, o Papa Francisco


Ele chegou a Roma, para o conclave, levando consigo o cheiro do povo latino-americano, as dores e esperanças dos humildes e sofredores, o anseio de quem sonha com uma Igreja simples e profética. Não constava na lista dos ‘papáveis’ e nem nas bolsas de apostas.  Não estava entre os ‘favoritos’. (Os que apostam não contavam com o Espírito Santo).
Em um conclave rápido, a surpresa: o novo papa vem do “fim do mundo” (expressão do próprio). Mas isso era só o começo das surpresas. Muito boas, diga-se de passagem. Em primeiro lugar, o nome. Francisco não é um nome, dizia alguém. É um projeto de vida.
Não quis receber o cumprimento dos cardeais no ‘trono’ do papa. Preferiu ficar de pé. “Somos todos irmãos”! Quando teve de sentar no trono quase caiu. Como a dizer: isso não é pra mim!
Os sapatos pretos com cadarços – que havia recebido de presente antes de viajar, em vez dos vermelhos, caros. A recusa das mitras pontifícias. A maneira como se apresentou aos fiéis que lotavam a praça: batina branca simples, sem a mozeta (capa vermelha) sobre os ombros, sem estola bordada, a cruz de ferro… Não surgiu como alguém que acabara de ser eleito para um dos ‘cargos’ mais importantes do mundo. Com olhar grave e sereno expressou a seriedade e a grandeza do ministério que estava para assumir. Depois, o gesto elegante e evangélico de se inclinar e pedir a bênção, a oração do povo. Em vez do latim, a saudação na língua local: “buona sera”; e a oração na mesma língua. Apresenta-se como bispo de Roma, não como papa, como sumo pontífice.
No dia seguinte, dispensa o carro oficial do Vaticano, limusine, e toma um carro sedã normal, sem a placa oficial do Vaticano, para ir à igreja Santa Maria Maior. Saindo de lá, buscou as malas na pensão sacerdotal e pagou a própria conta. Depois, dispensou mais uma vez o carro oficial para ir de ônibus com os irmãos cardeais. No refeitório, sentou-se na primeira cadeira vaga que encontrou.
Pelo menos por enquanto, recusou o apartamento papal. Decidiu ficar na residência Santa Marta, pois prefere “estar perto de outros membros do clero”.
Dirigiu-se para a Basílica de São Pedro em um Jipe mais simples, em vez do carro blindado, beijou crianças, desceu do carro para abraçar um deficiente físico.
Na Quinta-feira Santa celebrou no “Instituto Penal para Menores Casal del Marmo”, onde lavou e beijou os pés de 12 jovens infratores. Segundo o porta-voz, padre Federico Lombardi, “Francisco abraçou e beijou todos os detentos do instituto”. Como sabemos, o gesto de lavar os pés não é algo teatral, mas sinal de compromisso e desejo de servir. Estava expressando em atitudes o que falara pouco antes na Missa do Crisma: a unção com o óleo perfumado do Crisma “não é para nos perfumar a nós mesmos, e menos ainda para que a conservemos num frasco, pois o óleo tornar-se-ia rançoso… e o coração amargo”. A unção é para perfumar os outros e o ambiente. A Igreja precisa de “pastores com o ‘cheiro das ovelhas’ (…); pastores no meio do seu rebanho”.
Naturalmente, todo esse jeito (novo e tão antigo) de ser Pastor assusta muita gente. Incomoda. Toca na ferida. Quem dá mais valor aos ‘paninhos’ e ‘penduricalhos’ da igreja que à pessoa e à vida; quem defende uma igreja triunfalista, quem encara as funções e ministérios como poder; quem tem dificuldade para viver a pobreza e a transparência, certamente não irá gostar nada de tudo isso. Mas o recado de Francisco é muito claro. É preciso voltar às fontes. Uma Igreja pobre, “sem palácios, sem servidões, sem consumismo, sem carreirismo”, como diz Marco Politi, mas profética e comprometida com os excluídos e as vítimas da sociedade consumista e materialista.
Não se trata de ver em Francisco um homem perfeito, um papa sem defeitos, e nem é hora de canonizar ninguém. Contudo, se é verdade que “um gesto vale mais que mil palavras”, nosso novo Pastor já escreveu uma grande Encíclica, quase uma Enciclopédia. Resta a nós, membros da Igreja e da Sociedade, ter olhos e coração bem abertos para saber ler e assimilar o seu recado.
Padre: José Antônio de Oliveira
3 abril, 2013

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