terça-feira, 30 de abril de 2013

Somos povo em romaria


Foto: Somos povo em romaria

O caminho é um dos mais belos símbolos da vida e do cristianismo. A nossa fé nasceu com um homem idoso, Abraão, que deixou sua terra e partiu em busca do novo (cf Gn 12). Somos descendentes de um homem que, já na hora de se aposentar, aceitou o desafio de buscar com fé e ousadia uma nova razão para sua existência e uma vida melhor para o seu povo. Superou a tentação do cansaço e da comodidade.
O povo que nasceu dessa fé passou anos em caminhada por um longo deserto, lutando pra se desgarrar de um passado de exploração, de humilhações, e para conquistar a dignidade e a liberdade (Êxodo).
E foi do meio desse povo, sofredor e lutador, que nasceu Aquele que dividiria a História em antes e depois. Porque depois dele nada seria como antes. Esse Homem, não por mera coincidência, foi chamado pelos primeiros seguidores de “O Caminho” (cf At 9,2).
É por esse motivo que nós cristãs(ãos) nos consideramos “povo de caminheiros”, romeiros. Somos gente que caminha, não por caminhar, mas para alcançar metas e construir um futuro melhor.
Uma bonita expressão dessa realidade podemos experimentar na Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras, que acontece em todo o Brasil, sempre no dia primeiro de maio.
Na Arquidiocese de Mariana, ela chega à sua 23ª edição.
Para camuflar a dura realidade de muitas e muitos trabalhadores, e evitar manifestações contrárias à exploração, muitas empresas e prefeituras sempre organizaram festividades no Dia do Trabalho. Shows, festival de prêmios, brincadeiras etc. Uma ironia, pois essa comemoração foi criada justamente em homenagem à greve geral que aconteceu em Chicago, no dia 1º de maio de 1886, quando muita gente foi presa, ferida e até assassinada, por exigir respeito e dignidade. Diante disso, algumas entidades e grupos da sociedade e da Igreja de Jesus Cristo tiveram a iniciativa de promover algo mais de acordo com o espírito do dia. E uma das formas de expressar essa luta foi a criação da Romaria dos(as) Trabalhadores(as).
Cada ano, em nossa Arquidiocese de Mariana, concentramos o povo da luta em uma cidade, para caminhar, cantar, refletir, celebrar, se unir em torno de uma bandeira. Neste ano, em Viçosa, colocamos na mesa do debate e da celebração a realidade da Juventude, do trabalho e da água, como vítimas do capitalismo selvagem. O lema escolhido para ser o grito de ‘guerra’ é este: “Queremos outro desenvolvimento!”
Tudo isso está em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2013, sobre a Juventude, e com a 5ª Semana Social Brasileira.
Somos desafiados a ter um olhar crítico para a sociedade fundada no capital e no lucro, que coloca o desenvolvimento econômico acima da dignidade da pessoa. Uma sociedade dividida em classes, onde um grupo pequeno acumula e esbanja graças ao trabalho, às vezes desumano, de muitos. A sede insaciável de alguns provoca a exploração de muitos(as) jovens, transforma a sublime realidade do trabalho num peso, e faz dos bens naturais, que são comuns a todos, um instrumento de lucro para alguns e sofrimento para outros.
Em nossa região, preocupa-nos a falta de opções para a juventude, em termos de educação (embora tenha melhorado bastante), de lazer, de cultura, de trabalho... Muitos esbarram nas exigências de “boa aparência” (algo discriminatório) e de “experiência”. Como alguém que está começando pode ter já experiência?! Aqui entra também a questão da segurança, da violência, das drogas, da família, do sentido da vida, que afeta não só a juventude, mas a todos.
Com relação aos bens naturais, merece atenção especial a água, que é represada por empresas particulares, privatizada, comercializada, poluída. A ‘copasa’, por exemplo, já está no mercado de ações, na bolsa de valores. 
O minério, grande riqueza da nossa região, vai sendo vendido para os estrangeiros. Vai-se o minério, ficam os buracos, a poluição, a degradação ambiental, além de profundas feridas sociais.
“Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos...”, dizia o compositor e cantor Zé Geraldo. Não dá pra ficar parado, assistindo passivo a tudo isso, como se não fosse com a gente. Mas também não é fácil mudar algo que é cultural e estrutural. Só mesmo pela organização, pela mobilização, pela luta consciente e corajosa da sociedade organizada. E é esse o maior objetivo da Romaria dos trabalhadores, bem como de outras iniciativas que vão surgindo e pedem o nosso apoio: unir e mobilizar para mudar.
Pe. José Antonio de Oliveira
O caminho é um dos mais belos símbolos da vida e do cristianismo. A nossa fé nasceu com um homem idoso, Abraão, que deixou sua terra e partiu em busca do novo (cf Gn 12). Somos descendentes de um homem que, já na hora de se aposentar, aceitou o desafio de buscar com fé e ousadia uma nova razão para sua existência e uma vida melhor para o seu povo. Superou a tentação do cansaço e da comodidade.
O povo que nasceu dessa fé passou anos em caminhada por um longo deserto, lutando pra se desgarrar de um passado de exploração, de humilhações, e para conquistar a dignidade e a liberdade (Êxodo).
E foi do meio desse povo, sofredor e lutador, que nasceu Aquele que dividiria a História em antes e depois. Porque depois dele nada seria como antes. Esse Homem, não por mera coincidência, foi chamado pelos primeiros seguidores de “O Caminho” (cf At 9,2).
É por esse motivo que nós cristãs(ãos) nos consideramos “povo de caminheiros”, romeiros. Somos gente que caminha, não por caminhar, mas para alcançar metas e construir um futuro melhor.
Uma bonita expressão dessa realidade podemos experimentar na Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras, que acontece em todo o Brasil, sempre no dia primeiro de maio.
Na Arquidiocese de Mariana, ela chega à sua 23ª edição.
Para camuflar a dura realidade de muitas e muitos trabalhadores, e evitar manifestações contrárias à exploração, muitas empresas e prefeituras sempre organizaram festividades no Dia do Trabalho. Shows, festival de prêmios, brincadeiras etc. Uma ironia, pois essa comemoração foi criada justamente em homenagem à greve geral que aconteceu em Chicago, no dia 1º de maio de 1886, quando muita gente foi presa, ferida e até assassinada, por exigir respeito e dignidade. Diante disso, algumas entidades e grupos da sociedade e da Igreja de Jesus Cristo tiveram a iniciativa de promover algo mais de acordo com o espírito do dia. E uma das formas de expressar essa luta foi a criação da Romaria dos(as) Trabalhadores(as).
Cada ano, em nossa Arquidiocese de Mariana, concentramos o povo da luta em uma cidade, para caminhar, cantar, refletir, celebrar, se unir em torno de uma bandeira. Neste ano, em Viçosa, colocamos na mesa do debate e da celebração a realidade da Juventude, do trabalho e da água, como vítimas do capitalismo selvagem. O lema escolhido para ser o grito de ‘guerra’ é este: “Queremos outro desenvolvimento!”
Tudo isso está em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2013, sobre a Juventude, e com a 5ª Semana Social Brasileira.
Somos desafiados a ter um olhar crítico para a sociedade fundada no capital e no lucro, que coloca o desenvolvimento econômico acima da dignidade da pessoa. Uma sociedade dividida em classes, onde um grupo pequeno acumula e esbanja graças ao trabalho, às vezes desumano, de muitos. A sede insaciável de alguns provoca a exploração de muitos(as) jovens, transforma a sublime realidade do trabalho num peso, e faz dos bens naturais, que são comuns a todos, um instrumento de lucro para alguns e sofrimento para outros.
Em nossa região, preocupa-nos a falta de opções para a juventude, em termos de educação (embora tenha melhorado bastante), de lazer, de cultura, de trabalho... Muitos esbarram nas exigências de “boa aparência” (algo discriminatório) e de “experiência”. Como alguém que está começando pode ter já experiência?! Aqui entra também a questão da segurança, da violência, das drogas, da família, do sentido da vida, que afeta não só a juventude, mas a todos.
Com relação aos bens naturais, merece atenção especial a água, que é represada por empresas particulares, privatizada, comercializada, poluída. A ‘copasa’, por exemplo, já está no mercado de ações, na bolsa de valores.
O minério, grande riqueza da nossa região, vai sendo vendido para os estrangeiros. Vai-se o minério, ficam os buracos, a poluição, a degradação ambiental, além de profundas feridas sociais.
“Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos...”, dizia o compositor e cantor Zé Geraldo. Não dá pra ficar parado, assistindo passivo a tudo isso, como se não fosse com a gente. Mas também não é fácil mudar algo que é cultural e estrutural. Só mesmo pela organização, pela mobilização, pela luta consciente e corajosa da sociedade organizada. E é esse o maior objetivo da Romaria dos trabalhadores, bem como de outras iniciativas que vão surgindo e pedem o nosso apoio: unir e mobilizar para mudar.
Pe. José Antonio de Oliveira

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Que todos sejam um


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A grande prece de Jesus dirigida ao Pai contém diretrizes preciosas para seus seguidores e se destaquem os versículos vinte a vinte e seis. (Jo 17,20-26). Cristo roga pela unidade dos que nele crêem. Esta unidade não é uma palavra sem sentido. Com efeito, é pela revelação da unidade entre Jesus e seu Pai que se realiza, através dos séculos, sua glorificação e isto só se efetua no amor que une seus discípulos. Estes, onde quer que estejam, devem permanecer com Ele e, portanto, todos conectados entre si e com Aquele que é a Cabeça do Corpo Místico. Aí o fundamento cristológico desta união. Este liame se dá pela fé no divino Redentor que do céu enviou o Espírito que associa tudo no amor de Deus, por ser a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade a fonte de toda afeição.
Esta dileção se fundamenta na fé, porque crer é perceber que o Ser Supremo, invisível, se deu a conhecer em Cristo, o grande revelador do Criador de tudo. Assim a unidade é, de fato, a revelação do Pai, como toda a vida terrestre de Jesus a manifestou. A unidade de Deus, a unidade em Deus é o ponto de referência da coesão de todos os que crêem: “Que todos sejam um, do mesmo modo, ó Pai, que tu estás em mim e eu em ti”. Eis porque esta unidade divina é bem mais do que um simples modelo, dado que ela se exprime de maneira real precisamente nos fiéis, tornando-se, assim, perceptível no mundo inteiro. Foi o que disseram admirados os pagãos, referindo-se aos primeiros cristãos: “Vejam como eles se amam”! É que a comunidade cristã formava “um só coração e uma só alma” (Atos 4,32). Isto porque o mandamento novo estabelecido por Cristo, o amor fraterno, é fruto opimo do amor divino e opera maravilhas.
O preceito dado por Jesus a seus seguidores convida, pois, cada um a um conhecimento mútuo que é o sinal visível da caridade que as Pessoas divinas exprimem entre si. Foi o que explicou magnificamente Santo Agostinho: “Conhecer para melhor amar”. Na mentalidade bíblica conhecimento não se trata de um ato de inteligência, mas de um entrelaçamento recíproco que prende as pessoas umas às outras numa vivência cordial. Ver Jesus e O conhecer e nele ver o Pai é viver em comunhão com Ele e com os irmãos. A união fraterna é condição indispensável para a intimidade com Deus, entrando cada um na corrente de amor que liga Jesus ao Pai na unidade do Espírito Santo. O que se esquece muitas vezes é que este ideal só é atingido na medida em que o fiel se deixa transformar pelo amor do Coração do Mestre divino.
Ele que se imolou pela humanidade, até o extremo da oferta de sua vida por todos, se tornou um modelo e, desta maneira, pôde afirmar: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros” (Jo 13,35). A prática desta norma não consiste em meras palavras, mas precisa ser um impulso concreto que leve cada um a se tornar as testemunhas em atos de um amor comum. Eis porque é no engajamento desinteressado da afeição mútua que esplende no mundo o amor eterno de Deus. Esta atitude é tanto mais importante quando se verificam numerosas fraturas e divisões no seio da sociedade, as quais podem inclusive contaminar as comunidades cristãs. Deus não quer estas divergências. Diversidades oriundas da pluralidade são admissíveis, mas não as discordâncias, os desacordos, as dissensões. Estas, infelizmente, levam a tantas desuniões nos lares e podem resultar nos efeitos maléficos dos divórcios que separam os cônjuges entre si, os filhos de seus pais, lançadas inclusive por terra as promessas matrimoniais feitas solenemente diante do Altar. As discrepâncias que impedem o anelo de Cristo expresso neste seu desejo: “Que todos sejam um, do mesmo modo, ó Pai, que tu estás em mim e eu em ti” passam a imperar tantas vezes nas escolas, nos ambientes de trabalho e até nas diversas pastorais.
O cimento da coesão, porém, é o esforço constante de se escutar o outro, de perdoar sempre, de se sacrificar pelo próximo, de falar o que é certo, mas no momento propício e com aquela serenidade que brota do amor. Há, porém, ainda uma atitude basilar a ser adotada para que reine a fraternidade que é a fuga pertinaz do desacordo interior que pode reinar no íntimo de cada um. O salmista pedia a Deus: “Unifica, Senhor, o meu coração para que eu vos tema” (Sl 85,11).
Quando a dispersão se instala dentro de cada um, o ser humano se torna agressivo e nele domina o desamor. As manifestações de um egoísmo intransigente se transformam numa barreira à fraternização. Onde não há, em todos os sentidos, o amor preconizado por Cristo, o cristão se faz escravo de suas paixões e se torna vítima de seus caprichos. Este desequilíbrio interno leva ao afastamento da dileção para com os outros.
O amor fora da unidade interior é uma mentira, porque a relação do cristão com Jesus fica distorcida e construída em terreno movediço. Portanto, a união preconizada por Cristo comporta uma enorme gama de atitudes positivas que levem, de fato, à realização de seu desejo da perfeita união de todos com Deus e com o próximo, exigindo uma reflexão profunda sobre todos estes aspectos.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Fé e Ressurreição


A Ressurreição de Cristo fundamenta a fé cristã. A vida nova para a humanidade fundamenta-se na Ressurreição do Senhor da vida e da história. A Ressurreição de Cristo é fato, é certeza, porquanto a presença rediviva do ressurreto manifesta-se a nós pela participação na sua vida. A fé cristã alimenta-se da presença do seu autor, o Senhor que superou a morte de cruz e que ora e sempre se manifesta à humanidade, atuando na história pelo seu Espírito que habita nos filhos e filhas do Pai. A existência da Igreja justifica-se pelo fato da Ressurreição de seu Fundador, o Cristo. Os cristãos assumem sua identidade pela participação na missão que o Pai confiou ao seu Filho: viver e fazer com que todos vivam a vida nova, a atitude recíproca de amar e de servir aos semelhantes.
A transmissão da fé cristã, configurada no Evangelho de Cristo, é possível graças à sua presença vivificadora, transformadora, expressão nítida da ressurreição. Se assim não fosse, impossível seria transmitir e viver os valores da fé cristã. Fé em quem ou em que? Sem a ressurreição a fé se reduziria a uma filosofia, uma doutrina humana, como uma religião a mais ao lado de tantas outras. A fé cristã, baseada na ressurreição, não se confunde com alguma religião. O que difere uma e outra é atuação da presença do ressurreto a agir para além das estruturas humanas. A ressurreição não é monopólio, mas é graça que o Senhor largamente distribui a quem quer. Seu amor infinito, seu poder, sua vida plena não é e nem poderia caber nas delimitações e condicionamentos de uma ou outra religião. A vida plena é a participação na vida divina que Cristo ressuscitado nos mereceu uma vez por todas, superando a morte física, corpórea.
A Ressurreição de Cristo dá o significado pleno à vida, pois é resposta para os que a constroem. A vida é construção divina e humana. Divina porque a vida não nos pertence. Humana porque somos corresponsáveis por ela. A vida terrena passa rápida. A vida humana, divinizada, é páscoa, é passagem permanente para a ressurreição. Os cristãos entendem que o memorial eucarístico atualiza a presença do Senhor, que foi crucificado e morto, porém ressuscitado e oram assim: “Anunciamos, Senhor a tua morte e proclamamos a tua ressurreição. Vem, Senhor Jesus!”. Distingue-se, porém, não se separa a morte da ressurreição. A páscoa de Jesus é o modelo referencial da nossa participação na sua vida em plenitude. Eis o sentido da Páscoa cristã
Dom Aldo PagottoArcebispo da Paraíba (PB)
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segunda-feira, 8 de abril de 2013

À luz da Páscoa


Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Desde a tradição hebraica, passando pela tradição cristã, a páscoa é a festa central de cada ano. De tal modo que, celebrada a páscoa, o ano fica abençoado, bem encomendado, pela maneira como a páscoa foi celebrada.
Desta vez, tivemos uma páscoa bem incrementada, pelos surpreendentes episódios ligados ao processo da sucessão no Vaticano, que culminaram com a eleição do Papa Francisco.
Pois bem, se a páscoa foi muito marcada por estes episódios, o ano todo vai levar a marca deste início de pontificado, que começou suscitando tantas esperanças. Depois das demonstrações iniciais, sinalizando as intenções do novo papa, as expectativas começam a se voltar para as primeiras medidas concretas, que indiquem a efetivação da retomada da renovação eclesial, que continua tendo como referência ampla as propostas apresentadas no Concílio Vaticano II.
Não há dúvida, que o pontificado do Papa Francisco inaugurou um novo período na vida da Igreja. Um novo clima foi instaurado. Está bem fundada a confiança que o novo papa inspirou, de presidir na caridade a comunhão eclesial, a partir da Diocese de Roma.  São intenções generosas, que poderão encontrar facilmente formas de se realizar, e assim ir consolidando avanços significativos na empreitada de colocar novamente a Igreja em renovação e em estado de missão.
Neste contexto, a própria Assembleia Geral da CNBB, que começa nesta semana, será certamente influenciada pelo clima de início de pontificado. Já o fato dos bispos partilharem suas impressões sobre o novo Papa oferecerá assunto para muitas conversas pessoais, que certamente marcarão também as intervenções públicas sobre os diversos temas da Assembleia.
Por isto, sem acrescentar nenhum assunto novo na agenda da Assembleia, todos os assuntos serão situados no contexto do novo momento vivido pela Igreja.
Acresce outro detalhe importante. Está confirmada a vinda do Papa Francisco ao Rio de Janeiro, no próximo mês de julho. Se antes este “encontro mundial do Papa com os jovens” já contava com uma expectativa de grande presença, e de ampla repercussão mundial, mais ainda agora com a prometida presença do Papa que se tornou centro de atenção da mídia.  Está garantida a ampla repercussão deste evento, que contará com as últimas providências de sua organização nesta Assembleia da CNBB.
Ao garantir que vinha para o Rio de Janeiro em julho, o Papa Francisco avisou que pretende ir a Aparecida. Será mais um gesto, que se acrescentará a tantos outros, de apreço pela devoção a Maria.
Mas a ida dele a Aparecida possuiu outro ingrediente muito significativo. Foi em Aparecida que se realizou recentemente a Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino Americano. Nesta Conferência, ele foi o coordenador da equipe de redação do documento oficial.
Para o Papa Francisco, ir para Aparecida é assumir a identidade da Igreja Latino Americana. É valorizar sua caminhada pastoral, marcada pela generosa recepção do Concílio, como ficou demonstrado pela Conferência de Medellín em 1968, cujo espírito foi retomado na Conferência de Aparecida.
Portanto, esta viagem do Papa ao Brasil ainda se insere dentro da apresentação da “plataforma” do seu pontificado, olhado com muito interesse pelas Igrejas de outros continentes, que agora aguardam a contribuição da Igreja que deu o novo Papa.
Por tudo isto, a Páscoa deste ano injetou novos ingredientes, que precisam de tempo para serem assimilados.
Este ano ainda promete.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sua Humildade, o Papa Francisco


Ele chegou a Roma, para o conclave, levando consigo o cheiro do povo latino-americano, as dores e esperanças dos humildes e sofredores, o anseio de quem sonha com uma Igreja simples e profética. Não constava na lista dos ‘papáveis’ e nem nas bolsas de apostas.  Não estava entre os ‘favoritos’. (Os que apostam não contavam com o Espírito Santo).
Em um conclave rápido, a surpresa: o novo papa vem do “fim do mundo” (expressão do próprio). Mas isso era só o começo das surpresas. Muito boas, diga-se de passagem. Em primeiro lugar, o nome. Francisco não é um nome, dizia alguém. É um projeto de vida.
Não quis receber o cumprimento dos cardeais no ‘trono’ do papa. Preferiu ficar de pé. “Somos todos irmãos”! Quando teve de sentar no trono quase caiu. Como a dizer: isso não é pra mim!
Os sapatos pretos com cadarços – que havia recebido de presente antes de viajar, em vez dos vermelhos, caros. A recusa das mitras pontifícias. A maneira como se apresentou aos fiéis que lotavam a praça: batina branca simples, sem a mozeta (capa vermelha) sobre os ombros, sem estola bordada, a cruz de ferro… Não surgiu como alguém que acabara de ser eleito para um dos ‘cargos’ mais importantes do mundo. Com olhar grave e sereno expressou a seriedade e a grandeza do ministério que estava para assumir. Depois, o gesto elegante e evangélico de se inclinar e pedir a bênção, a oração do povo. Em vez do latim, a saudação na língua local: “buona sera”; e a oração na mesma língua. Apresenta-se como bispo de Roma, não como papa, como sumo pontífice.
No dia seguinte, dispensa o carro oficial do Vaticano, limusine, e toma um carro sedã normal, sem a placa oficial do Vaticano, para ir à igreja Santa Maria Maior. Saindo de lá, buscou as malas na pensão sacerdotal e pagou a própria conta. Depois, dispensou mais uma vez o carro oficial para ir de ônibus com os irmãos cardeais. No refeitório, sentou-se na primeira cadeira vaga que encontrou.
Pelo menos por enquanto, recusou o apartamento papal. Decidiu ficar na residência Santa Marta, pois prefere “estar perto de outros membros do clero”.
Dirigiu-se para a Basílica de São Pedro em um Jipe mais simples, em vez do carro blindado, beijou crianças, desceu do carro para abraçar um deficiente físico.
Na Quinta-feira Santa celebrou no “Instituto Penal para Menores Casal del Marmo”, onde lavou e beijou os pés de 12 jovens infratores. Segundo o porta-voz, padre Federico Lombardi, “Francisco abraçou e beijou todos os detentos do instituto”. Como sabemos, o gesto de lavar os pés não é algo teatral, mas sinal de compromisso e desejo de servir. Estava expressando em atitudes o que falara pouco antes na Missa do Crisma: a unção com o óleo perfumado do Crisma “não é para nos perfumar a nós mesmos, e menos ainda para que a conservemos num frasco, pois o óleo tornar-se-ia rançoso… e o coração amargo”. A unção é para perfumar os outros e o ambiente. A Igreja precisa de “pastores com o ‘cheiro das ovelhas’ (…); pastores no meio do seu rebanho”.
Naturalmente, todo esse jeito (novo e tão antigo) de ser Pastor assusta muita gente. Incomoda. Toca na ferida. Quem dá mais valor aos ‘paninhos’ e ‘penduricalhos’ da igreja que à pessoa e à vida; quem defende uma igreja triunfalista, quem encara as funções e ministérios como poder; quem tem dificuldade para viver a pobreza e a transparência, certamente não irá gostar nada de tudo isso. Mas o recado de Francisco é muito claro. É preciso voltar às fontes. Uma Igreja pobre, “sem palácios, sem servidões, sem consumismo, sem carreirismo”, como diz Marco Politi, mas profética e comprometida com os excluídos e as vítimas da sociedade consumista e materialista.
Não se trata de ver em Francisco um homem perfeito, um papa sem defeitos, e nem é hora de canonizar ninguém. Contudo, se é verdade que “um gesto vale mais que mil palavras”, nosso novo Pastor já escreveu uma grande Encíclica, quase uma Enciclopédia. Resta a nós, membros da Igreja e da Sociedade, ter olhos e coração bem abertos para saber ler e assimilar o seu recado.
Padre: José Antônio de Oliveira
3 abril, 2013

terça-feira, 2 de abril de 2013

Papa Francisco recebe kit da Jornada Mundial da Juventude


O assessor da Comissão para a Juventude, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, padre Carlos Sávio Ribeiro, teve um encontro com o papa Francisco, no último dia 26 de março, no Vaticano. Na ocasião, padre Sávio entregou ao papa um kit da Jornada Mundial da Juventude, contendo uma camisa e uma revista, produzida pelo grupo ‘Jovens Conectados’, ligado à CNBB, mostrando o trabalho que a Igreja Católica, no Brasil, realiza junto à juventude.
O padre disse ao papa que será uma alegria recebê-lo, no mês de julho, no Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude. Ele conta que o Santo Padre manifestou alegria e disse: “Que bonito! Quero participar de tudo, com muita intensidade”. O papa também adiantou que a revista o ajudará a entender o trabalho da Igreja junto à juventude, no Brasil. No final da conversa, Francisco abençoou o padre e disse: “Continue firme e nos veremos no Brasil”.
Para o padre Sávio, o encontro com o papa significou renovação do compromisso sacerdotal e reforçou a opção de se dedicar ao trabalho com os jovens, no Brasil. “Participar da primeira Semana Santa do pontificado do papa Francisco foi uma grande graça. As atitudes dele e o modo simples e atencioso para com as pessoas me comoveram bastante”, destaca.
Fonte: CNBB