segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Mês Vocacional


VOCAÇÃO: SOU E SEMPRE SEREI CHAMADO

Neste mês de Agosto, a Igreja do Brasil nos propõe o mês vocacional, convidando-nos a refletir sobre vocação de modo amplo. A palavra vocação vem do latim vocare, que quer dizer chamado.  O que implica dois interlocutores, ou seja, um que chama e outro que ouve e responde. É Deus quem chama o ser humano e, esse responde, ou não. Deus é sempre o interlocutor primeiro, pois a iniciativa do diálogo sempre vem d’Ele (primereiar, no dizer do papa Francisco).
Primeiramente, somos chamados por Deus à vida (cf. Gn 2,7). A existência humana é fruto do amor criador de Deus, que nos chama a vir a ser, a existir, ser gente e construir-se como pessoa. A esse chamado buscamos responder ao longo de toda nossa existência, num processo contínuo de personalização e construção do eu. A realização desta vocação dependerá da participação e da experiência que realizarmos com o próprio Deus que nos cria a sua imagem e semelhança. Isso implica entrar na dinâmica de desenvolvimento da personalidade nos níveis estrutural, psíquico, relacional e espiritual. Noutras palavras, a realização vocacional permeia a busca do autoconhecimento e do auto-aperfeiçoamento. Daí, a importância das inquietantes provocações: quem sou eu? O que posso ser? E como posso ser? Ser pessoa implica desenvolver relações consigo mesmo, com os outros e tudo que nos envolve e, principalmente com Deus. Ser pessoa é dispor-se de si e dispor-se aos outros.
Recebemos também a vocação cristã. Deus nos chama a ser pessoa dentro de um corpo, participar da sua família. Através do Sacramento do Batismo somos incorporados ao corpo místico de Cristo, tornando, em Cristo, filhos adotivos de Deus. A vocação cristã leva a plenitude nossa relação com Deus, fazendo-nos participantes da missão de Cristo como profeta, sacerdote e rei, permitindo-nos ser “sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5,13-14), pessoas cristiformizadas (tomar a forma de Cristo). Na vivência da vocação batismal está o desenvolvimento de nossa vocação universal que é à Santidade.
A pessoa, sendo parte do corpo místico de Cristo, a Igreja, é chamada a desenvolver sua vocação pessoal e cristã de modo específico, ou seja, segundo um carisma próprio. As vocações específicas são: vocação sacerdotal, vocação religiosa, vocação leiga (matrimonial, leigo engajado consagrado ou não). Cada uma dessas, a seu modo, expressa, em Cristo, o amor oblativo e serviçal. Cada membro tem uma função específica neste corpo, por isso, é importante que cada um responda consciente e generosamente ao chamado que Deus lhe faz.

Com efeito, refletir sobre vocação é reconhecer que o homem foi, é, e sempre será chamado. Como peregrino, o ser humano está sempre a caminho. Essa dinâmica marcará sempre sua existência. Para entendermos melhor essa perspectiva processual, pensemos a vocação deste modo:
1.  Vocação é SAÍDA: sair de si; sair do lugar em que se encontra. Sair de seguranças possíveis, do lugar cômodo e lançar-se no terreno do desconhecido. Terreno não somente geográfico, mas principalmente, existencial. Sair implica esvaziar-se, deixar para trás ideias, projetos e pensamentos – na maioria das vezes egoístas – e se colocar a caminho; enfrentando com fé as inseguranças e medos e até mesmo os sofrimentos que o chamado possa causar.
2.  Vocação é BUSCA: o ser humano se coloca como peregrino que está sempre em busca de algo que dará sentido à sua vida. Caminha sempre para um fim, tornando sua busca incansável enquanto não encontra o que deseja. Esse desejo, Deus o colocou em seu coração, em seu espírito, a fim de que o homem não se acomode enquanto não alcançar o fim último pelo qual o ser humano anseia, que é Deus. Como já afirmara Santo Agostinho: seu coração permanecerá inquieto enquanto não encontrar e repousar em Deus.
3.  Vocação é CAMINHO: é de suma importância levar em consideração que, para toda busca, é necessário estabelecer trajetórias, itinerários. É preciso buscar caminhos. E o caminho como já se diz “se faz caminhando”. O certo é que todos os caminhos nos levam a algum lugar. É preciso, portanto, ter em mente o que eu quero para minha vida e onde eu quero chegar, para saber qual o caminho que devo percorrer, ou pelo menos, onde não quero chegar jamais.
4.  Vocação é DESCOBERTA: todo aquele que busca, encontra. No itinerário vocacional, o homem está sempre num processo permanente de descoberta. À medida que caminha, realiza algumas chegadas. Às vezes, nem sempre desejadas, no entanto, necessárias. O que se verifica é que, entre saídas e chegadas, o homem sempre descobre algo e, principalmente, se descobre. Vocação é descoberta, e essa sempre exige de nós o acolhimento - ou não - das surpresas de Deus. Nos passos percorridos e na descoberta alcançada, se encontra a realização de nossa vocação.
Deus nos chama, aponta-nos o caminho, envia-nos. Respondo, sigo e me entrego! Enfim, a vocação faz parte da existência humana em sua totalidade; faz parte dessa inquietude humana que busca sempre algo mais, que busca sentido. No peregrinar desta existência, é que o homem compreende seu chamado, sua essência. E é neste constante movimento de saídas e chegadas que ele vai se realizando enquanto pessoa, imagem de Deus, ser vocacionado.
Gilsimar Tavares Vieira

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