quarta-feira, 25 de julho de 2012

Os cristãos e a política



Passado o tempo das convenções partidárias e do registro das candidaturas para as eleições municipais de outubro, começa oficialmente a campanha eleitoral. De alguma forma, isso vai nos afetar, pois se trata de algo que envolve toda a vida de cada pessoa e de cada comunidade. Embora os candidatos “roubem a cena” e fiquem em destaque, na verdade os cidadãos e cidadãs é que são os verdadeiros protagonistas desse processo.
É bom tomar consciência do grande poder que carregamos nas mãos. De fato, somos nós que, com o nosso voto, iremos dar, como diz Frei Betto, “emprego e poder” a algumas pessoas do nosso município. E da atuação dos mesmos dependerá em muito a qualidade de vida da nossa comunidade, o atendimento aos serviços fundamentais (saúde, educação, transporte, moradia, segurança), a participação popular, a liberdade de pensamento e ação, o exercício da cidadania.
Por isso, é difícil ficar indiferente, deixar acontecer, ignorar o processo. Cada um(a) pode e deve dar a sua contribuição.
Algumas pessoas acham e dizem que a religião não tem a ver com a política. Não é bem assim. Ambas têm como objetivo a busca do bem comum, a construção da justiça, a promoção da vida e da dignidade para todos. A palavra “religião” significa “re+ligar”. Por isso, a vivência da fé, como o exercício da política, é uma forma de possibilitar a união, a organização, a qualidade de vida. O grande exemplo que temos é o próprio Jesus Cristo, que não morreu de velhice ou de doença, mas por defender a causa da vida e da justiça, por enfrentar lideranças políticas e religiosas descomprometidas com a vida do povo.
No caso da Igreja católica, inúmeros documentos e pronunciamentos deixam clara a exigência do envolvimento cristão no processo político de organizar a sociedade. Expressam o dever de levar para a realidade social, econômica e política os valores evangélicos. Paulo VI, falecido em 1978, afirmava com muita propriedade: “A política é uma das mais altas expressões da caridade cristã” (cf Documento 82 da CNBB, p. 24).
O Documento de Medellín, fruto da Segunda Conferência do Episcopado Latino-americano, afirma: “A carência de uma consciência política torna indispensável a ação educadora da Igreja, a fim de que os cristãos considerem sua participação na vida política como um dever de consciência e como o exercício da caridade, em seu sentido mais nobre e eficaz para a vida da Comunidade”. (Capítulo I, número 2) E o papa João Paulo II dizia: “Os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na política” (Christifideles Laici, 42).
Diante de tanta corrupção e falta de seriedade por parte de muitos eleitos, é natural que haja um certo “desencanto e diminuição da confiança do povo nos políticos, nas instituições públicas e nos três poderes do Estado” (Diretrizes da CNBB – Doc 82, n. 33). De fato, percebe-se em muitos, inclusive agentes e militantes, o cansaço, a sensação de impotência, o desânimo. Mas se omitir é pior. É deixar espaço aberto para os profissionais da política. É facilitar a vida de quem não tem ética ou compromisso. Quem tem nojo da política, dizia Frei Betto, “é governado por quem não tem”. Mesmo sabendo que em muitos lugares o coronelismo, a pressão e o medo dificultam o exercício da liberdade, ninguém tem poder para mudar nossa consciência e impedir nossa coerência. Mesmo constatando que às vezes faltam opções, é preciso pesquisar, conversar, exigir e, depois, cobrar dos eleitos.
Para quem é candidato(a), fica o desafio de fazer a diferença pela honestidade e transparência. Que procure conhecer os partidos, os programas e compromissos de cada um. Não vale dizer que é tudo igual. E é bom entender um pouco de coligações e do “quociente eleitoral”. No caso de vereadores e deputados, por exemplo, nem sempre a pessoa eleita é a que consegue o maior número de votos. São somados os votos da coligação e é escolhida a mais votada. Algumas pessoas podem ser “usadas” sem saber. Não serão eleitas, mas ajudarão a eleger outros da coligação. E há o risco de, até contra a própria vontade, colaborarem para a eleição de alguém com quem não concordem ou até critiquem. Num assunto tão sério, não dá pra ser ingênuo ou ignorante.
Pe. José Antonio de Oliveira

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