sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Características do reinado de Cristo

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O trecho do Evangelho de São Lucas leva a bem conceituar o reinado de Cristo (Lc 23, 35-43). A essência deste reinado diferencia-se profundamente das concepções que normalmente se tem da realeza. Os reis que aparecem na História se apresentam como um onipotente senhor, muito acima de seus súditos. Chefe de um poderoso exército, possui terras, palácios, numerosos servos às suas ordens. Vivem no luxo, cercados das mais extravagantes mordomias. Em síntese, um privilegiado, muitas vezes passando seus dias numa corte mundana e submissa a seus caprichos.
Hoje, porém, o rei que é festejado se apresenta no alto de uma cruz, objeto de injustos insultos, vítima de uma grosseria inominável advindos do povo e dos seus dirigentes. Não está ali um Rei coberto de ouro, porque não seria o ouro que o faria um soberano. Nem mesmo a legião dos anjos lhe vem salvá-lo naquela hora, dado que não seria isto que o tornaria um monarca. Apresenta-se marchetado de feridas, ironizado sob todos os aspectos, condenado a uma morte ignóbil. Ele não se salva a si mesmo, porque viera para redimir todo o mundo. Não escapa voluntariamente da cruz, uma vez que ela seria salvação de toda a humanidade, a paga pelos pecados dos homens, a garantia da reconciliação com o Ser Supremo.
Antes de estar no altar de uma terrível imolação pelos seus vassalos ele havia demonstrado que sua realeza tinha características peculiares, pois ele se ajoelhara diante de seus discípulos e lhes lavara os pés, Ele que nascera numa manjedoura, vivera numa pobre carpintaria e pôde então afirmar que seu império não era deste mundo. Ele, o Verbo Eterno de Deus que se encarnara para conduzir seus seguidores para seu reino de justiça e de felicidade, de amor e de paz, proclamava assim o pouco valor dos poderes meramente humanos.
A marca fundamental de sua soberania era o amor que o levara àquele martírio para abrir para quantos O aceitassem as portas do Reino dos céus. Eis porque, consumado seu sacrifício, morto, sepultado, ressuscitando pelo seu próprio poder seria aclamado Rei imortal dos séculos por milhares de homens e mulheres tocados pela vibração deste amor incomensurável. O grande monumento deixado nesta terra por este Rei, seria sua Cruz, mas esta indicaria para todos que O aceitassem o caminho para a entrada nos deslumbrantes palácios da eternidade.
Enquanto os todo-poderosos deste mundo haveriam de continuar a se impor através da propaganda, de suas estratégias para se manter no mando, este Rei prosseguiria pelos tempos afora a recomendar: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”, Ele que viera “não para ser servido, mas para servir”. Viera realmente numa missão de amor, para testemunhar e atestar que Deus ama suas criaturas racionais. Por isto ele tocaria fundo os corações generosos e seu reinado se distinguiria pelos novas relações dos homens entre si e de todos com Deus.
Verdadeiro Rei que dá às pessoas que se submetem a Ele força para lutar contra todas as formas de injustiças que desfiguram a humanidade. Aos vivos e mortos que O têm como soberano ele os  envolve na luz de sua ressurreição e garante: “Quem crê em mim, viverá eternamente”. Este Rei, porém, não é um dominador como os potentados deste mundo. Ele continua pela história afora a passar na vida dos seres humanos, batendo à porta dos corações, correndo o risco de ser novamente rejeitado como acontece com tantos arraigados nos seus erros e paixões, mas conquistando milhares que aderem à Verdade e ao Bem. Isto porque pertencer à Verdade é escutar seus ensinamentos, perceber sua voz e conformar a vida pessoal, familiar e profissional com seus desígnios sublimes.
Pertencer à Verdade é se entregar a Ele imbuído de seu Espírito, retificando sempre a conduta sem se deixar influenciar pelo Príncipe das Trevas. Ele, contudo, conta com seus súditos fiéis para levarem por toda parte sua mensagem salvífica, seu olhar de amor e de ternura. Ele espera de seus autênticos epígonos que anunciem que o mal não terá jamais a última palavra, que seu amor de Rei triunfante é que vencerá. Cumpre difundir sempre “seu reino de vida e de verdade, de graça e santidade, de justiça de amor de paz”. Um dia este Rei voltará para estabelecer para sempre o reino divino. Por isto, seus súditos que caminham nesta terra vivem num processo de conversão, sem se deixar seduzir pela falsa lógica do mundo.
É preciso trazer os que se acham longe deste Rei para o acatamento de sua Pessoa. Eis porque se repete tantas vezes na oração que Ele ensinou “que o teu reino venha a nós”. Isto leva à submissão a seu coração de misericórdia e de amor. Grande a responsabilidade do cristão em testemunhar o reino de Cristo.
Que se contemple então a Cruz na qual a realeza de Jesus se revela em toda sua amplitude cósmica, oferecendo a todos o seu Reino de luz, de paz, de  ventura por toda a eternidade.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Fonte: www.arqmariana.com.br

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