segunda-feira, 30 de setembro de 2013

CNBB divulga cartaz e subsídios da Campanha da Fraternidade 2014: “Fraternidade e Tráfico Humano”

Os subsídios da Campanha da Fraternidade 2014 já estão disponíveis nas Edições CNBB. São diversos materiais como o manual, texto base, via sacra, celebrações ecumênicas, folhetos quaresmais, CD e DVD, banner, cartaz, entre outros. Com o objetivo de trabalhar os conteúdos da campanha nas escolas, foram produzidos também subsídios de formação voltados aos jovens do ensino fundamental e médio, além de encontros catequéticos para crianças e adolescentes.
O cartaz da CF 2014, que se encontra disponível para download, traz o tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1). Os demais produtos podem ser adquiridos no site: www.edicoescnbb.org.br ou pelo telefone: (61) 2193.3001.
Entenda o significado do cartaz:
1-O cartaz da Campanha da Fraternidade quer refletir a crueldade do tráfico humano. As mãos acorrentadas e estendidas simbolizam a situação de dominação e exploração dos irmãos e irmãs traficados e o seu sentimento de impotência perante os traficantes. A mão que sustenta as correntes representa a força coercitiva do tráfico, que explora vítimas que estão distantes de sua terra, de sua família e de sua gente.
2-Essa situação rompe com o projeto de vida na liberdade e na paz e viola a dignidade e os direitos do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. A sombra na parte superior do cartaz expressa as violações do tráfico humano, que ferem a fraternidade e a solidariedade, que empobrecem e desumanizam a sociedade.
3-As correntes rompidas e envoltas em luz revigoram a vida sofrida das pessoas dominadas por esse crime e apontam para a esperança de libertação do tráfico humano. Essa esperança se nutre da entrega total de Jesus Cristo na cruz para vencer as situações de morte e conceder a liberdade a todos. “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1), especialmente os que sofrem com injustiças, como as presentes nas modalidades do tráfico humano, representadas pelas mãos na parte inferior.
4-A maioria das pessoas traficadas é pobre ou está em situação de grande vulnerabilidade. As redes criminosas do tráfico valem-se dessa condição, que facilita o aliciamento com enganosas promessas de vida mais digna. Uma vez nas mãos dos traficantes, mulheres, homens e crianças, adolescentes e jovens são explorados em atividades contra a própria vontade e por meios violentos.
(Fonte: CF 2014).

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Francisco e a conversão pastoral


Padre Geraldo Martins
 A repercussão da visita do papa Francisco ao Brasil foi surpreendente. As lições que deixou com seus gestos, palavras e silêncios ecoarão por muito tempo em nossos corações e em nossa vida. São tão numerosas e relevantes que fica difícil enumerá-las ou apontar a mais importante.
Detenho-me aos discursos que dirigiu ao episcopado brasileiro e aos dirigentes do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam). O pano de fundo de suas palavras é o Documento de Aparecida, do qual foi um dos principais redatores durante a V Conferência do Episcopado da América Latina e Caribe, realizada em Aparecida há seis anos.
Aos bispos da CNBB o papa mostrou o caminho de renovação da Igreja quando destacou que ela deve ser instrumento de reconciliação, dar espaço ao mistério de Deus, ser missionária. Quando insistiu que ela não se afaste da simplicidade; se faça companheira e vá além da escuta; que seja capaz de devolver a cidadania aos filhos de Deus e redescubra as entranhas de misericórdia.
Com delicadeza de pastor e sabedoria de mestre, sublinhou cinco desafios postos à Igreja no Brasil: formação dos leigos, religiosos, padres e bispos; colegialidade dos bispos; estado permanente de missão e conversão pastoral; função da Igreja na sociedade e a Amazônia.
Aos dirigentes do Celam, Francisco enfatizou a urgência da conversão pastoral. Fez inquietantes perguntas cujas respostas revelarão a Igreja que temos e a Igreja que queremos. As interrogações do papa têm como base a Igreja-Comunhão-Participação que nasce do Concílio Vaticano II e, na América Latina, se solidifica com Medellín e Puebla.
Questionou, por exemplo, se o trabalho da Igreja é mais administrativo que pastoral; se os leigos são realmente participantes da missão; se os problemas enfrentados pela Igreja são tratados de forma reativa ou proativa; se os Conselhos Pastorais e Econômicos das dioceses e paróquias são realmente espaço de participação e levados em conta para o discernimento pastoral; se os ministros ordenados já superaram a tentação de manipulação ou submissão em relação à missão dos leigos.
Para o papa estes questionamentos constituem a chave da conversão pastoral porque dizem respeito a atitudes. “A conversão pastoral diz respeito, principalmente, às atitudes e a uma reforma de vida”, diz o papa. Isso implica “entrar em processo” na dinâmica própria da mudança de atitudes. De acordo com Francisco, pastoral é o “exercício da maternidade da Igreja” que “gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta, conduz pela mão”, daí a necessidade de ser misericordiosa. “Sem misericórdia, poucas possibilidades temos hoje de inserir-nos em um mundo de feridos que têm necessidade de compreensão, de perdão, de amor”.
A conversão pastoral exige, segundo o papa, que a Igreja deixe de ser autorreferencial e que as pastorais sejam próximas para que promovam o encontro de Deus com as pessoas e vice-versa. Além disso, é necessário vencer pelo menos três grandes tentações: a ideologização do evangelho, o funcionalismo e o clericalismo. O caminho que Francisco propõe para superação deste último é simples e bastante conhecido: Grupos Bíblicos, Comunidades Eclesiais de Base e Conselhos Pastorais.
Estas palavras do papa Francisco jogam especial luz sobre o estudo que nossas comunidades por todo o Brasil fazem do texto da CNBB “Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia”. A renovação da paróquia que se busca terá sua efetiva concretização a partir de verdadeira conversão pastoral, que implica também na mudança de estruturas caducas.
Em boa hora Deus inspirou o papa Francisco que nos ajuda a perceber o caminho de renovação de nossas paróquias. Vale seu alerta: “a mudança de estruturas – de caducas a novas – não é fruto de um estudo de organização do organograma funcional eclesiástico, de que resultaria uma organização estática, mas é consequência da dinâmica da missão”. E ainda: “O que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos é a missionariedade”.
Padre Geraldo Martins Dias

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Jornada Mundial: e agora?

A Jornada Mundial da Juventude, como evento, passou. Como processo, deve iniciar um longo e fecundo caminho. É hora de perguntar: o que fica? Quais os resultados e as consequências? Que frutos esperar? Que rumos assumir?
Um primeiro olhar é de gratidão e reconhecimento, por esse grande evento que marcou de maneira tão bonita a Igreja no Brasil e no mundo, as juventudes, o povo brasileiro. Foi de fato um momento forte de encontro, aprendizado, evangelização, festa, confraternização.
Foi bonito ver o rosto alegre, esperançoso, idealista e comprometido de tantos(as) jovens. Gratificante perceber o clima de respeito, de diálogo, de fé.
Foi um alento ver que o novo Pastor da Igreja Católica tem a cara do povo e o jeito de Jesus. Simples, de uma profunda espiritualidade, aberto ao diálogo, revelando a radicalidade do Evangelho, com coragem e sensibilidade para tocar nas feridas.
Por outro lado, é natural que a Jornada deixe no ar uma série de perguntas e questionamentos. E é preciso encará-los para crescer e amadurecer o processo da Jornada.
Um primeiro ponto é a questão do protagonismo da juventude. É claro que a presença carismática do Papa Francisco atraiu a atenção da mídia e do povo em geral. Isso acabou ofuscando um pouco os grandes protagonistas da Jornada, que são os jovens. E mesmo nas palestras, nos eventos, nas celebrações, nos shows, não foi de fato a juventude que estava em evidência.
Outro ponto, por sinal muito bem colocado pelo Pe. Hilário Dick, é a questão da “Pastoral de processos” e da “Pastoral de eventos”. Numa sociedade tão marcada pelo espetáculo, pelo superficial, pela estética, com pouco conteúdo e fundamento, a tentação é de ir mais na direção da pastoral dos eventos. A grande imprensa abre espaço com facilidade pra tudo aquilo que dá audiência: grandes encontros de massa, missas para multidões, mega shows de evangelização, artistas da mídia, inclusive padres. Não é à toa que quase todas as redes de rádio e televisão reservaram boa fatia de sua grade para a Jornada ou, mais especificamente, para o Papa. Se Francisco não estivesse presente, é certo que pouco se veria na mídia, inclusive nos canais de orientação católica.
Citando alguns exemplos: a “Marcha Internacional contra o Extermínio da Juventude”, no dia 26, com cerca de 2.500 pessoas, que deveria ser momento marcante da Jornada, quase não apareceu. O Ato para recordar os 20 anos da Chacina da Candelária, quando crianças e adolescentes foram brutalmente assassinados, passou em branco. As catequeses, os trabalhos vocacionais, debates etc, nada disso interessou. Não daria audiência. Não reverteria em lucro$.
Os eventos, as celebrações de massa, a presença na mídia, tudo isso é importante. Dá visibilidade, anima, contagia. Mas o que faz crescer, o que leva ao engajamento, o que se torna alicerce é, certamente, o processo silencioso e quase imperceptível do dia a dia, da luta, da reflexão.
O Papa Francisco nos alertou para isso, quando comentava sobre a transferência da celebração do Campus Fidei para Copacabana: “o verdadeiro campo da Fé somos nós”. Pe. Hilário diz que talvez Deus não tenha permitido que “a nossa aproximação com os pobres fosse, simplesmente, parte do espetáculo”.
Francisco ainda toca em algumas questões que precisam ser levadas a sério. Antes de pisar em terras brasileiras, ainda no avião, já falava que a atenção está voltada para a juventude, mas não podemos descuidar dos idosos. Cuidar (não apenas controlar) dos jovens; respeitar os mais idosos.
Lembrava que, para conhecer melhor a juventude e assumir suas lutas, a Igreja precisa se encarnar. Sair da sacristia. Ser de fato missionária, e não se contentar com a pastoral da conservação.
E falou da importância de sonhar, de ousar, de revolucionar. Jovem que não sonha já está velho. “Jovem que não protesta não me agrada”, dizia o Papa. O que nos impulsiona é a utopia: “respirar e olhar pra frente”. A experiência muitas vezes nos freia. O sonho nos empurra. “Sejam revolucionários!” Será que estamos preparados para partilhar sonhos e alimentar a utopia?
Finalmente, sinto que a eclesiologia expressa pela Jornada não foi bem a do Vaticano II e das Conferências latino-americanas. Foi muito mais eclesiologia dos movimentos pentecostais do que de comunidade; mais da estética do que da profecia; mais angelical do que humana e encarnada. Por exemplo, na celebração final de envio, os cantos foram uma oportunidade para que cada padre cantor ou artista da mídia apresentasse o seu showzinho. Músicas bonitas, mas não do povo. Faltou um grupo de animação do canto, com melodias ligadas à vida, à luta, à juventude, para que o povão pudesse soltar a voz, expressar a sua fé, o seu entusiasmo, a sua alegria de crer em Alguém que é capaz de transformar corações e dar sentido à vida. Gostaria muito de ouvir o coral de um milhão de vozes cantando: “Se é pra ir pra luta eu vou, se é pra tá presente, eu tô…”; “Somos gente nova, vivendo a união, somos povo-semente de uma nova nação…”. Seria um aperitivo do céu. Mas…
Foi muito bom! Foi bonito! Mas há um longo caminho a percorrer…
Padre José Antônio de Oliveira