segunda-feira, 14 de maio de 2012

Maria: Mãe de Deus ou filha de Deus?


Maio: mês das noivas, mês das mães, mês de Maria…
As coisas vão mudando, a maioria das crianças já não sonha mais com as coroações, mas ainda é forte a devoção a Maria. No coração do povo brasileiro, do povo latino de modo geral, não diminui o carinho e a devoção à Mãe de Jesus e Mãe da Igreja.
Mas não faltam também aqueles que ficam incomodados. Não seria meio exagerada essa devoção? Não há o risco de endeusar Nossa Senhora? De fato, no desejo de demonstrar o quanto amamos Maria, podemos acabar desviando um pouco o foco da fé, perdendo a centralidade de Jesus Cristo. Um exemplo bem simples: todos conhecemos aquele antigo canto “o meu coração é só de Jesus”. Para prestar homenagem a Maria na coroação fizeram uma adaptação: o meu coração é só de Maria. Naturalmente, as crianças dizem isso com toda simplicidade, mas não deixa de ser sintomático. Até o padre Reginaldo Manzotti, em sua música Prece a Nossa Senhora, diz: “Salvai o povo seu” (sic), atribuindo a Maria o poder de salvar. Não soa muito bem.
A própria oração da Ave-Maria, que repetimos tantas vezes, e cuja primeira parte é toda bíblica, traz bem claro: “Santa Maria, Mãe de Deus…”. Existe um dogma da Igreja Católica que se refere a essa maternidade divina, e o Catecismo da Igreja Católica confirma que, de fato, ela “é verdadeiramente Mãe de Deus” (n. 495).
Mas essa afirmação gera muitas dúvidas e inquietações. E aumenta a dificuldade de diálogo com as Igrejas Evangélicas. Eu, particularmente, não gosto muito dessa expressão. Para os teólogos, que conseguem fazer essa distinção, entendendo que ela não é mãe da Divindade, mas de Jesus, que é Deus, tudo bem. Mas para o povo em geral isso é meio complicado. Como é que Maria pode ser a Mãe de Deus, se Ele é eterno, sempre existiu, não foi criado por ninguém, está acima de tudo? Para a teologia é fácil responder, mas para a maioria de nós fica confuso.
Achei linda a composição do Zé Vicente, que gravou com o Pe. Zezinho a canção “Maria de Maio”, onde ele diz: “Ó Filha de Deus, ó Mãe de Jesus!”. Acredito nisto. Prefiro assim. Ela é filha muito querida de Deus. Ele a ama tanto e confia de tal maneira nela que a escolheu pra gerar o seu Filho, carregá-lo no ventre e nos braços, amamentá-lo, ensinar-lhe as primeiras palavras, educá-lo, acompanhá-lo em cada momento da vida, até na hora da paixão, da morte, do sepultamento. Honra maior não pode haver. E a Bíblia se refere várias vezes a ela como “a Mãe de Jesus” (cf Jo 2,1; 19,25; At 1,14). Mas o dogma da maternidade divina surgiu posteriormente, para contrapor a algumas pessoas que negavam a divindade de Jesus. Talvez tivesse sentido naquele momento.
Como a religião cristã nasceu e se desenvolveu num contexto profundamente masculino e machista, dando a entender que a Trindade é toda do sexo masculino (Pai, Filho e Espírito Santo), e como é impossível a vida sem o feminino, sem a mãe, não é de admirar que o povo tenha se refugiado na figura de Maria. Embora na prática Deus seja tudo, Pai, Mãe e muito mais, Maria entrou na vida e no coração do povo como a Mãe que faltava em nossa religião. E nossa gente se alegra, se sente confortada e feliz em colocá-la num lugar de destaque. Ela merece! Faz bem olhar para ela e senti-la como sendo o “rosto materno de Deus”.
Porém, não precisa que ela seja salvadora da humanidade, mãe de Deus. Basta que seja sua filha querida, escolhida para ser a mãe de Jesus. E saber que Jesus, no momento extremo de sua paixão/doação, entregou-a a todos nós, para ser a nossa mãe, a mãe da Igreja (discípula amada): “Mulher, eis aí teu o filho” (Jo 19,26). Acreditar que, ao lado de Deus, ela intercede por nós, torce por nós, nos acompanha com seu carinho e com o cuidado que só a mãe tem.
Aquela que encontrou graça junto de Deus, que tão bem soube conquistar o coração do Pai, olhe por nós com o mesmo carinho que dedicou a Jesus, e cuide com ternura especial de nossas mães, que tanto precisam de ajuda para bem exercer esse dom sublime, essa divina tarefa da maternidade.
Pe. José Antonio de Oliveira

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