sexta-feira, 18 de maio de 2012

Silêncio e Palavra


“É no silêncio que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo… No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão”.
Essas palavras, sábias e poéticas, são de Bento XVI, em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado cada ano na Festa da Ascensão de Jesus. Antes de voltar ao Pai, Jesus deixa aos seus discípulos a missão de anunciar a Boa-Nova. Daí, a escolha desse dia para lembrar os meios de comunicação.
Para tratar do assunto, o Papa escolheu um tema muito oportuno e rico: silêncio e palavra. A mensagem é tão profunda e bela que tomei a liberdade de fazer uma síntese e partilhar com vocês. Vale a pena conhecê-la e refletir sobre o tema!
Embora aparentemente opostos entre si, palavra e silêncio devem fazer parte de toda verdadeira comunicação. Devem se alternar, se equilibrar, se integrar. Sem silêncio, as palavras se esvaziam de conteúdo e de sentido. No silêncio, nos escutamos melhor, compreendemos com mais clareza o que falamos e o que ouvimos, permitimos que o outro expresse os próprios sentimentos, nos libertamos de ficar presos às nossas palavras e ideias. Por meio dele, abre-se um espaço de escuta, de respeito, de valorização do outro. De fato, a capacidade de escuta revela sensibilidade; demonstra a qualidade, a medida e a natureza dos laços que nos unem ao outro.
No meio de tanta informação, é indispensável reservar espaço para o silêncio. É ele que nos possibilita discernir melhor o que é essencial e o que é inútil ou secundário; distinguir o que vale a pena ser assimilado e guardado, daquilo que pode ou deve ser descartado. Pe. Zezinho dizia há algum tempo que, atualmente, as pessoas têm milhares de perguntas não respondidas e milhões de respostas para perguntas que não fizeram. O Papa toca no assunto, dizendo que somos bombardeados por respostas a questões que não formulamos e necessidades que não sentimos. É preciso silêncio para discernir esses estímulos; para identificar as perguntas que são verdadeiramente importantes, como, por exemplo: Quem sou eu? Que devo fazer? Que posso esperar?
Na verdade, o ser humano está à procura de verdades que deem sentido e esperança à sua existência. Mais do que troca de ideias, opiniões, informações, sentimos necessidade de partilhar nossa visão de mundo, nossas esperanças, nossos ideais; de partilhar a nós mesmos. Uma simples palavra, um pequeno pensamento, uma breve mensagem, quando interiorizados, digeridos, meditados podem fazer um bem imenso. Não é à toa que quase todas as tradições religiosas reservam um espaço privilegiado para o silêncio e a contemplação.
O alimento só é absorvido pelo organismo quando digerido silenciosamente dentro de nós. A palavra, a mensagem, os sentimentos que penetram em nós só serão assimilados e transformados em vida se forem digeridos pelo silêncio. Por isso, educar-se em comunicação, lembra o Papa, mais do que aprender a falar, significa aprender a escutar, a contemplar.
No campo da fé, é essencial educar-se para a escuta e para o silêncio, para saborear e absorver a grande riqueza que Deus nos comunica. E também para perceber a fecundidade dos silêncios de Deus. “No silêncio da cruz, fala a eloquência do amor” que se entrega e se doa plenamente. No silêncio da terra, Jesus morto se faz semente de vida e garantia de ressurreição. Quando Deus se cala, está querendo nos comunicar algo importante. E é justamente no silêncio da contemplação que conseguimos mergulhar no mistério de Deus, experimentar a importância da Palavra, encontrar a fonte do Amor.
Em meio à turbulência da vida e a essa verdadeira avalanche de informações, somos convidados a fazer a difícil experiência de pacificar nosso inquieto coração, filtrar e ruminar as palavras, reservar tempo para aquilo que realmente vale a pena, aprender a verdadeira contemplação. Somos desafiados a ouvir mais e falar menos.
O silêncio nos possibilita mergulhar no mais profundo de nós mesmos, valorizar mais o que os outros têm a nos dizer, e dar qualidade àquilo que falamos e queremos comunicar.
Pe. José Antonio de Oliveira

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